domingo, 25 de março de 2012

Inominável

Que sensação maravilhosa! Como dar nome a esse pulsado forte de um coração que insiste em não acompanhar o compasso descompassado das minhas razões? Como posso denominar essa teimozia de minhas lágrimas ansiosas e insistentes em cair quando ouço aquela música?... É, aquela música que lembrava nós dois quando estávamos felizes ou tristes. Ah, aquela melodia usada para derreter qualquer indício de fúria que acompanhava uma leve ruga em sua testa quando ousava tentar começar uma discussão que sutilmente resultava em um beijo apertado e quente findando todo e qualquer sofrimento.

Lembro dos momentos em que agíamos como crianças bobas rindo à toa de qualquer bobagem lida ou vista na televisão, daqueles momentos nos quais o riso era demasiado quando fazíamos brigadeiro para acompanhar o filme de comédia romântica em pleno sábado à noite.

Como é o nome disso que sentimos quando ficamos embriagados com o cheiro impregnado em nossa roupa depois do abraço apertado e longo num dia chuvoso na sala de estar ou no quarto escuro?
Ai, como eu queria lembrar... O nome... O significado... O sentido...
Ai, como eu queria que alguém soubesse de fato dar um único nome a isso tão gostoso...

Queria Drummond, Rosa, Freud, minha avó, alguém que soubesse me dizer o nome desse sentimento que invade o meu pensamento, os meus sonhos, minhas escritas, meu inspirar e meu suspirar.
Penso que o nome eu já tenha vivido, sentido, mas hoje, disso tudo tenho apenas saudades.
A resposta encontrarei na vida. No futuro. Numa esquina. Dentro de mim.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Recomeço

         Estava sentada ali, por diversas horas, imóvel, olhar fito no horizonte em busca de algo que já não podia ter. Fechava os olhos e tentava encontrar uma resposta para o que havia acontecido. Nada. Seus olhos abriram lentamente após uma longa espera e parecia-lhe que aquela paisagem campestre era a própria figura de uma prisão, mas não uma prisão como as que são levados os criminosos, não. Era uma prisão suave, momentânea, era seu âmago quem desejava prender-se ali.

          A blusa que lhe envolvia o corpo era presente dele, isso aumentava ainda mais a sua angústia. Em sua mão já não havia mais o anel, agora apenas uma marca branca representando e lembrando o vazio deixado. Seus pés nus tocavam a grama úmida, estavam paralelos. Sentada com os joelhos curvados vez ou outra deixava o rosto escondido entre eles. Não sabia o pior: fechar os olhos e lembrar-se de tudo o que aconteceu ou abri-los e perceber que não foi um sonho. Antes fosse...

          Respirou fundo e levantou-se. Começou a caminhar lentamente, olhos fechados, mãos nos bolsos dianteiros da calça. Sentia uma leve brisa tocar seu rosto. Andou sem rumo por um longo tempo. Sentiu seu estômago roncar por diversas vezes, mas não havia fome, vontade de comer era a última coisa na qual se deteria a pensar. Foi em frente e permaneceu andando sem rumo, sem pressa de chegar a lugar nenhum.

          Seu coração que quase não pulsava, agora, de súbito, parecia ter voltado à vida. Seus olhos ficaram arregalados e expressivos ao ver, bem de longe, o que mais parecia uma miragem. Mãos trêmulas, suadas agora largavam os bolsos e em punhos fechados e alternados auxiliavam no equilíbrio de seu corpo que não mais caminhava. Estava correndo como uma flecha pronta para acertar o alvo.

          Lembranças, desejos, futuro agora vinham à tona à sua mente preenchendo o vazio que havia. Até que a flecha alcançou o alvo. Imóveis. Olhares fixos, arrependidos, amantes... Beijo. Um longo beijo parece ter tido a capacidade de parar o tempo, de fazer todas as mágoas evaporarem junto com o suor de ambos. Agora ternos, ao mesmo tempo (des)culpados. Não mais queriam lembrar-se de traições, fúria, rompimento. Naquele instante só havia ela, ele, a relva, o amor.