quarta-feira, 23 de março de 2011

Recomeço

         Estava sentada ali, por diversas horas, imóvel, olhar fito no horizonte em busca de algo que já não podia ter. Fechava os olhos e tentava encontrar uma resposta para o que havia acontecido. Nada. Seus olhos abriram lentamente após uma longa espera e parecia-lhe que aquela paisagem campestre era a própria figura de uma prisão, mas não uma prisão como as que são levados os criminosos, não. Era uma prisão suave, momentânea, era seu âmago quem desejava prender-se ali.

          A blusa que lhe envolvia o corpo era presente dele, isso aumentava ainda mais a sua angústia. Em sua mão já não havia mais o anel, agora apenas uma marca branca representando e lembrando o vazio deixado. Seus pés nus tocavam a grama úmida, estavam paralelos. Sentada com os joelhos curvados vez ou outra deixava o rosto escondido entre eles. Não sabia o pior: fechar os olhos e lembrar-se de tudo o que aconteceu ou abri-los e perceber que não foi um sonho. Antes fosse...

          Respirou fundo e levantou-se. Começou a caminhar lentamente, olhos fechados, mãos nos bolsos dianteiros da calça. Sentia uma leve brisa tocar seu rosto. Andou sem rumo por um longo tempo. Sentiu seu estômago roncar por diversas vezes, mas não havia fome, vontade de comer era a última coisa na qual se deteria a pensar. Foi em frente e permaneceu andando sem rumo, sem pressa de chegar a lugar nenhum.

          Seu coração que quase não pulsava, agora, de súbito, parecia ter voltado à vida. Seus olhos ficaram arregalados e expressivos ao ver, bem de longe, o que mais parecia uma miragem. Mãos trêmulas, suadas agora largavam os bolsos e em punhos fechados e alternados auxiliavam no equilíbrio de seu corpo que não mais caminhava. Estava correndo como uma flecha pronta para acertar o alvo.

          Lembranças, desejos, futuro agora vinham à tona à sua mente preenchendo o vazio que havia. Até que a flecha alcançou o alvo. Imóveis. Olhares fixos, arrependidos, amantes... Beijo. Um longo beijo parece ter tido a capacidade de parar o tempo, de fazer todas as mágoas evaporarem junto com o suor de ambos. Agora ternos, ao mesmo tempo (des)culpados. Não mais queriam lembrar-se de traições, fúria, rompimento. Naquele instante só havia ela, ele, a relva, o amor.

Um comentário:

  1. Oi, Joyce!

    Boa iniciativa!

    Não acho que caberia uma crítica agora, mas sim um conselho: pense na "história secreta", que, segundo Ricardo Píglia, no conto moderno, as histárias devem conter. É uma história dentro da outra, como se nas entrelinhas. É bem interessante. Eu tentei proceder assim nos meus contos. Dá uma olhada (comenta):

    http://negrosanguelit.blogspot.com

    Valeu!

    Erick Camilo

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